Prefeitura de São Paulo quer ônibus com padrão de metrô

04/07/2015 - O Estado de SP

SÃO PAULO - O novo modelo de concessão de ônibus da capital apresentado nesta sexta-feira, 3, pela Prefeitura de São Paulo pretende "metronizar" os coletivos, com mais assentos para passageiros e velocidade superior à atual nos corredores. Se por um lado o formato apresentado deve reduzir a frota em mil veículos, passando a menos de 14 mil, por outro a Prefeitura promete aumentar o número de viagens em 24% e criar 151 mil novos assentos.

O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, acredita que o novo modelo não entrará em funcionamento até o fim de 2016, quando se encerra a gestão Fernando Haddad (PT). "Isso passa para as próximas gestões", afirmou.

A Prefeitura de São Paulo deve lançar a minuta do edital na semana que vem. A partir da data de publicação, o processo estará aberto para consulta pública por 30 dias. A licitação está estimada em ao menos R$ 140 bilhões, por 20 anos.

A Prefeitura não informou se o modelo reduzirá o número de linhas - hoje são 1.386. "É uma reorganização. Aumenta os assentos e diminui o número de veículos. Vai atender melhor. O ideal, tanto quanto possível, é aproximar do padrão do metrô", disse Haddad. Com a redução no número de veículos, a previsão do prefeito é de que a velocidade nos corredores de ônibus ultrapasse a média atual de 20 km/h.

O secretário Tatto afirmou que empresas internacionais já manifestaram interesse em concorrer, mas não quis dar detalhes. Haddad lembrou que, para estimular a concorrência, a Prefeitura removeu "todos os obstáculos possíveis". A gestão vai desapropriar cerca de 50 garagens usadas pelas empresas de ônibus, por exemplo, e repassá-las aos vencedoras da licitação.

Centro de controle.As empresas serão responsáveis por formar uma sociedade jurídica e criar um Centro de Controle Operacional (CCO). Do ponto de vista da Prefeitura, o CCO é uma das principais vantagens do novo modelo de concessão. Embora seja um investimento das empresas, o centro será monitorado também por uma equipe da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e da São Paulo Transporte (SPTrans), segundo o secretário Tatto.

Para o presidente da SPUrbanuss, sindicato que representa os donos das empresas, Francisco Christovam, também se trata do maior avanço do decreto. "Não tem cabimento 14 mil ônibus circularem em São Paulo sem acompanhamento em tempo real, para saber se os veículos estão muito carregados, presos no trânsito, atrasando partidas", afirmou.

O desejo das empresas é que, além de representantes das garagens, os CCOs tenham agentes da CET e da SPTrans, além da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Como os veículos terão computadores de bordo e GPS, uma das exigências da Prefeitura para a concessão, os centros poderão saber a velocidade média de cada veículo. Caso as partidas dos terminais estejam atrasando, o CCO entrará em contato com os motoristas e fiscais para normalizar a situação.

A promessa da Prefeitura era de que o edital fosse lançado em maio, com término do processo marcado para junho. O procedimento foi feito em meio a suspeitas por parte do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores do Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (Sindimotoristas) de que o novo sistema cortará o número de postos de trabalho, uma vez que prevê a redução de veículos em circulação. A gestão Haddad negou que o modelo provoque desemprego no setor. Segundo Tatto, os trabalhadores não serão prejudicados, porque as vencedoras da licitação terão de readmiti-los.

Só ônibus articulados vão poder circular em corredores da capital

Coletivos médios, do tipo 'padron', vão fazer as interligações; Prefeitura aumenta de 8 para 27 áreas de atuação das empresas

SÃO PAULO - No novo formato de concessão do transporte público, a Prefeitura vai aumentar de oito para 27 as áreas em que as empresas terão de atuar. O aumento está relacionado com a forma como os ônibus vão se espalhar pela cidade. Na prática, veículos menores terão de deixar corredores e faixas exclusivas. Mas há possibilidade de passageiros fazerem mais baldeações.

Uma das novidades da nova concessão é o que a Secretaria Municipal de Transportes chama de grupo local de articulação regional, ou eixos estruturantes. Essa parte terá a função de cortar os 121,3 quilômetros de corredores e os outros 479,1 quilômetros de faixas exclusivas por vias perimetrais e radiais. Os ônibus que circularem nesses viários, do tipo padrão, estarão proibidos de entrar nas vias segregadas da cidade.

Na Estrada do M'Boi Mirim, na zona sul, por exemplo, o transporte público usa tanto o corredor de ônibus como a faixa da direita, causando uma sobreposição de itinerários no mesmo viário. Com o novo formato, a via terá coletivos apenas no corredor de ônibus.

"Isso ajuda no desempenho do corredor porque vai tirar muitos carros de dentro dele. Hoje, na Avenida Rebouças, tem diversos veículos do tipo padrão. O mesmo acontece na faixa exclusiva do Corredor Norte-Sul", explicou Almir Chiarato, diretor de Operações da São Paulo Transporte (SPTrans). De acordo com ele, retirando veículos menores dos corredores e das faixas exclusivas, os ônibus articulados e superarticulados terão um desempenho melhor. Esse carros maiores vão fazer parte, exclusivamente, do sistema estrutural de transporte, que é justamente onde estão as vias exclusivas.

Neste mês, a Prefeitura vai colocar em operação cem veículos do tipo superarticulado, com capacidade para 171 passageiros. Para que os usuários saibam que esses veículos circulam apenas em corredores e faixas, serão todos prateados.

Mais baldeações.Os coletivos que vão trafegar em corredores e faixas exclusivas têm tamanhos entre 19 e 25 metros. De acordo com Chiarato, eles trafegarão, preferencialmente, em "linha reta", sem passar por avenidas menores, que não têm capacidade para receber grandes veículos. Isso vai fazer com que os passageiros tenham de fazer baldeações de uma linha para outra. Caso a usuário esteja em veículo de um eixo estruturante e queira entrar em um corredor de ônibus, por exemplo, terá de desembarcar em um ponto e embarcar em outro.

 

Por outro lado, essas linhas que não entraram nos corredores serão as responsáveis por levar os passageiros de terminais de bairro para estações de metrô e trem. As empresas aprovam. Segundo Francisco Christovam, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de São Paulo (SPUrbanuss), retirando veículos pequenos dos corredores, não haverá mais riscos de interferências. "Uma linha que, por exemplo, sai de Pinheiros e vai para o Terminal Bandeira não pode mais usar o corredor. Vai ter de ir por dentro, por outros caminhos", explicou.

Pagamento de viações exigirá cumprimento de horários e frota

Departamento Financeiro da São Paulo Transporte vai fracionar o pagamento para as concessionárias, levando em conta qualidade

SÃO PAULO - O Departamento Financeiro da São Paulo Transporte (SPTrans) vai fracionar o pagamento para as concessionárias, levando em consideração a qualidade do serviço e o que cada uma das empresas se comprometeu a fazer. Do total do pagamento, 50% vai ser composto pela quantidade de passageiros transportados, 40% pelo cumprimento das viagens programadas e outros 10% por disponibilidade de frota.

Se uma das concessionárias cumprir, por exemplo, 30% das viagens programadas, ela terá um desconto de 10% sobre o que ela ganharia no total pelo que se comprometeu.

Para Adauto Farias, diretor econômico-financeiro da SPTrans, isso só vai ser possível porque a empresa vai monitorar em tempo real os ônibus do Centro de Controle Operacional (CCO). "Hoje, a tarifa é por passageiro transportado. Essa nova forma vai modificar o serviço de transporte de passageiro. Uma das maiores reclamações no serviço de ônibus é justamente o atraso das viagens programadas", explicou Farias.

Também será usada como base do cálculo de remuneração a opinião dos passageiros do transporte público. Por meio de pesquisas qualitativas, que ainda não tiveram o formato definido, os passageiros poderão avaliar o serviço de ônibus.

"Isso é uma inovação muito importante e reivindicada há muitos anos por movimentos sociais. Quando o incentivo é só passageiro transportado, pode haver uma distorção em favor do empresário, em detrimento da qualidade", afirmou, nesta sexta-feira, 3, o prefeito Fernando Haddad (PT). Segundo ele, a medida de fracionar o pagamento "corrige distorções" no pagamento para as empresas.

O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de São Paulo (SPUrbanuss) disse aprovar que os repasses para o setor tenham como base a qualidade do serviço assinado em contrato. "Estimula a empresa a buscar a produtividade, a atender melhor o passageiro. Temos absoluta consciência de que o serviço não feito não precisa ser pago", afirmou Francisco Christovam, presidente da entidade.

No entanto, ele alerta para o fato de que a Prefeitura não deve exigir das empresas um serviço que está além da capacidade do que o viário da cidade pode oferecer. "O poder público não pode exigir que os veículos atinjam uma velocidade que não foi bem dimensionada", disse.

'Dois dígitos'.Um relatório de uma auditoria feita nas contas das concessionárias pela consultoria Ernst&Young, a pedido da atual gestão, apontou que as empresas estavam com uma Taxa Interna de Retorno (TIR) da ordem de 15%. Isso é o quanto as empresas lucram a partir dos investimentos que elas fazem na frota e nas garagens.

Haddad afirmou que no novo contrato de concessão do serviço esse valor não vai passar dos "dois dígitos". Segundo ele, o máximo que as empresas terão de retorno ficará em 9,9%. No entanto, não há previsão de que essa mudança reduza o preço da tarifa.

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