Custo faz Prefeitura de Campinas tirar BRT do Viaduto Cury

05/04/2015 - Correio Popular - Campinas

A Prefeitura de Campinas desistiu de levar os BRTs até o Terminal Magalhães Teixeira, que funciona dentro do Viaduto Cury, e estuda dois novos locais, a Avenida Campos Salles e a região do Mercado Municipal, para receber as estações de transferências dos ônibus rápidos que farão a ligação do Centro com as regiões do Campo Grande e do Ouro Verde.

A Secretaria de Transportes fez as contas e concluiu que precisaria investir mais de R$ 100 milhões na remodelação do terminal para que o local pudesse receber ônibus articulados ou biarticulados. O alto custo levou a secretaria a optar por deixar esse terminal para os ônibus que irão alimentar as linhas dos BRTs.

O secretário municipal de Transportes, Carlos José Barreiro, disse que o projeto básico dos corredores foi entregue à Caixa Econômica Federal e, assim que sair o aval, irá publicar o edital para contratar o projeto executivo e a obra. O plano é implantar os corredores em 2016.

Barreiro disse que, como o conceito do BRT é ser tronco — linha que tem a função de ligar duas regiões por um corredor —, o problema é chegar ao Centro com esses veículos, que poderão ser articulados ou biarticulados, em uma região congestionada.

Equipe da secretaria está fazendo os estudos e buscando soluções independentes para cada linha. A linha Campo Grande caminha para que as estações de transferências sejam na região do Mercado Municipal, mas não necessariamente onde hoje há um terminal de ônibus.

 "Estamos avaliando aquela região, que terá que ser repaginada e passar por uma grande reconstrução para poder receber as estações", disse.

Já as linhas do Ouro Verde deverão chegar na Avenida Campos Salles, com estações de transferências instaladas no trecho entre a Avenida Senador Saraiva e a Rua José Paulino, alternativa que irá demandar uma grande intervenção na Campos Salles, uma vez que o BRT exigirá duas faixas exclusiva de tráfego.

 "Se essa for a hipótese que adotarmos, então faremos uma estação de parada atrás da Catedral, na Rua José Paulino", afirmou.

Como a Catedral é um patrimônio tombado de Campinas, foi feita uma consulta ao Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Campinas), que deu parecer favorável à instalação (leia nesta página). Barreiro afirmou que essa parada não seria uma estação de transferência, mas apenas uma linha de passagem.

 "Se adotarmos essa alternativa, implantaremos na José Paulino, na quadra da Catedral, o conceito de trafic calm (trânsito calmo, em inglês), estreitamento da via para que a velocidade dos veículos seja reduzida e não provoque trepidações na construção histórica. É possível também que a via, naquela quadra, seja usada exclusivamente pelos BRTs, com proibição de outros veículos", afirmou.

Dos R$ 340 milhões necessários à implantação do maior projeto de mobilidade da cidade, R$ 197 milhões virão do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), R$ 98 milhões do Orçamento Geral da União e R$ 45 milhões de contrapartida da Prefeitura.

Os corredores do BRT irão atender uma população de cerca de 300 mil pessoas que vive nos eixos Centro-Campo Grande e Centro-Ouro Verde.

A expectativa da Prefeitura era iniciar ainda este ano as obras, mas sucessivos atrasos com o projeto transferiram para 2015 o começo da construção. A implantação começará pelo corredor Campo Grande — serão 17,8 quilômetros de extensão saindo do Centro, seguindo pelo leito desativado do antigo veículo leve sobre trilhos (VLT), John Boyd Dunlop e chegando ao Terminal Itajaí.

Junto com ele, será construída uma perimetral com quatro quilômetros de extensão, ligando a Vila Aurocan até o Campos Elíseos, seguindo pelo leito desativado do VLT.

O outro corredor, o Ouro Verde, terá 14,4 quilômetros de extensão. A previsão era de que saísse do Terminal Central (Viaduto Miguel Vicente Cury), seguindo pela João Jorge, Amoreiras, Ruy Rodriguez, Camucim e Terminal Vida Nova.

O projeto contempla, além de uma pista exclusiva para os ônibus, estações de transferência fechadas e plataformas em nível, com embarque e desembarque pela porta esquerda do veículo.

 

Ponto de parada atrás da Catedral levanta polêmica

Trepidação com o tráfego de veículos pesados pode agravar rachaduras e comprometer igreja histórica, diz arquiteto; projeto para instalação é da Prefeitura

Projeto da Prefeitura de instalar uma estação de parada de ônibus padrão BRT atrás da Catedral Metropolitana de Campinas poderá comprometer a integridade do maior patrimônio cultural da cidade, que já sofre com rachaduras nas paredes de taipa provocadas pelo trânsito intenso na Rua José Paulino.

O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) deu parecer favorável à consulta feita Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), mas a decisão preocupa o responsável pelo restauro do templo, Ricardo Leite.

"Será preciso fazer obras complementares para garantir a integridade da Catedral, como a construção de um muro de arrimo enterrado para evitar que o prédio rache com o impacto dos ônibus", disse.

Ele afirmou que vai procurar a Emdec para ver o projeto e apresentar obras que considera necessárias para preservar a edificação, do século 19.

O Condepacc deu parecer favorável à instalação de uma estação do BRT naquele local porque, segundo consta do projeto, ela será construída na calçada oposta à Catedral e terá pouco impacto visual, permitindo integração com o meio ambiente.

De acordo com o projeto, os pavimentos atuais serão substituídos por pavimentação rígida em concreto armado para minimizar e amortecer de forma significativa os impactos e as trepidações causadas pela circulação dos ônibus.

O intenso tráfego de veículos na Rua José Paulino vem provocando rachaduras nas paredes de taipa Há trincas em várias partes do prédio centenário e uma das varandas do presbitério precisou ser escorada para evitar que o bloco de taipa descesse. Mesmo assim, a janela já não consegue ser fechada.

Embora não haja risco de desmoronamento, a grande movimentação de veículos está agredindo o maior patrimônio de Campinas. O ideal, afirmou, é que o trânsito fosse proibido na Rua José Paulino entre a Costa Aguiar e a 13 de Maio.

O problema se agravou após a revitalização da Rua 13 de Maio, quando o trecho de rua no cruzamento com a José Paulino foi elevado para ficar no mesmo nível do calçadão.

Com isso, surgiu uma valeta e, cada vez que passava um ônibus ou veículo mais pesado, havia uma pancada no solo que, embora consertado, ainda faz a Catedral vibrar.

Na parte do prédio onde a taipa trincou e desceu fica o almoxarifado da Catedral. A vibração é tanta que, segundo os funcionários, os objetos guardados nas prateleiras constantemente acabam caindo no chão. "Temos trincas nas paredes com dois centímetros de largura", disse Ricardo Leite.

A varanda do presbitério foi escorada para evitar que a argamassa existente em cima da parede de taipa caísse e ficará provisoriamente.

A área atrás do templo tem várias depressões no solo, resultado da compactação que vem ocorrendo ao longo dos anos.

 "Quando a rua surgiu, pedestres passavam por ela; depois, vieram as carroças, os carros, ônibus, caminhões pesados. Tudo isso foi provocando movimentações na rua, na calçada e também na Catedral", afirmou o responsável pelo restauro.

 "Se querem fazer uma estação, então será preciso que esse muro seja construído", disse o arquiteto.

Reforma

Os andaimes que cobrem a fachada da Catedral começaram a ser retirados com a conclusão da atual fase do restauro. A torre da igreja começou a ser pintada em amarelo e, em 30 dias, segundo previsão do responsável pelo restauro, Ricardo Leite, a fachada estará liberada.

Mas ainda está longe a conclusão da recuperação das fachadas porque ainda falta conseguir captar R$ 4,3 milhões necessários à conclusão do projeto.

A Arquidiocese conseguiu autorização do Ministério da Cultura, em 2012, para captar R$ 7,1 milhões para as obras, utilizando os benefícios da lei de incentivos fiscais (Lei Rouanet) e, desse total, obteve R$ 2,8 milhões, suficientes apenas para o restauro das fachadas.

A fachada da frente do templo teve toda a argamassa trocada, os anjos foram restaurados e dois dos quatro evangelistas da fachada, recuperados.

Os recursos obtidos até agora vieram dos bancos Itaú e Bradesco e das empresas de alimentação Ticket, Alelo, Sodexo e FMC.

As empresas usaram a lei de incentivos fiscais, que permite a destinação para projetos de cunho cultural de 4% do Imposto de Renda (IR) devido por pessoa jurídica e 6% para pessoas físicas.

A Catedral tem chances de obter os recursos que faltam com a venda do potencial construtivo do templo, mas a burocracia da Prefeitura está travando essa possibilidade. Para ir ao mercado vender o potencial, a Catedral precisa possuir o certificado de transferência de de potencial construtivo decorrente do tombamento (CPC-T).

A Catedral já seguiu toda a tramitação exigida pela lei e espera os documentos — com eles, poderá usar em outra área, e até vender, os metros quadrados que teria direito de construir no terreno, caso a edificação que possui não fosse tombada.