02/02/2015 - O Estado de SP
Apesar das recentes medidas adotadas para incentivar o uso do transporte coletivo, como as faixas exclusivas, o número de carros e motos emplacados na capital paulista não para de aumentar – e em um ritmo maior do que nos últimos anos. Segundo estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo, a quantidade de automóveis que começaram a circular nas vias paulistanas no ano passado cresceu 3,4% em relação a 2013. No mesmo período, 4,5% mais motocicletas foram para as ruas.
Em 2014, 186 mil carros (509 por dia) e 45 mil motos (123 por dia) foram acrescentados à frota da cidade, ante 130 mil e 32 mil dois anos atrás. O número de carros chegou a 5,63 milhões e o de motos, 1,04 milhão.
Na avaliação de especialistas, a situação só deve mudar com a melhora da qualidade do serviço de ônibus. Como revelou o Estado na semana passada, em 2014 o número de usuários nos coletivos administrados pela São Paulo Transporte (SPTrans) caiu 0,3%. E, embora a cidade já tenha 465 km de faixas exclusivas, esse mecanismo não é suficiente.
Para Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), a população opta pelos meios de deslocamento "menos ruins". "O tempo é o bem mais precioso e as pessoas têm levado até 5 horas para ir e voltar do trabalho de ônibus. Com uma moto paga à prestação, por exemplo, essa pessoa poderia voltar mais cedo para casa", afirma Ejzenberg.
Foi o que fez o universitário Thiago Anastacio, de 30 anos. Usuário contumaz de trens e ônibus, ele, que mora em Carapicuíba, na Grande São Paulo, comprou uma moto alguns meses após começar a estudar em uma faculdade na Barra Funda, na zona oeste. "Eu pagava R$ 12 por dia para ir voltar de trem e ônibus. Agora, com a moto, gasto R$ 7. Deixaria a moto de lado se o sistema de transporte público fosse mais barato e rápido."
Já o consultor de Tecnologia da Informação David Ribeiro, de 32 anos, decidiu comprar uma moto há quatro meses, depois que mudou de emprego. Ele vive na região de Interlagos, na zona sul, e sempre andou de transporte público. Antes, trabalhava no centro. "Mas agora, meu trabalho é em Moema e lá não tem metrô nenhum perto. Não quero depender de ônibus. Por isso, comprei a moto. Com ela, faço o percurso em 25 minutos. De ônibus, em no mínimo uma hora e meia."
Bicicleta.Alexandre zum Winkel, que é consultor em Trânsito, afirma que apenas a abertura de novos eixos de transporte de alta capacidade, como linhas de metrô e corredores de ônibus, resolverá o impasse da mobilidade em São Paulo, atraindo pessoas dos transportes individuais para os coletivos.
"Fala-se muito que está fazendo (metrô e corredores), mas isso não está sendo efetivamente sentido pela população. A Prefeitura passou a incentivar mais a bicicleta em vez do transporte público e a maioria dos grandes corredores de ônibus previstos estão parados."
Melhorias. A Secretaria Municipal dos Transportes informou, em nota, que estimula o uso do transporte coletivo, tendo obtido "resultados positivos" nesse sentido. A pasta ressalta as melhorias, como as faixas de ônibus, as ciclovias (que já somam 214 km) e a construção de 150 km de corredores de ônibus, previstos para serem entregues até o fim de 2016.
Para a Prefeitura, "não se pode relacionar o aumento de poder aquisitivo da população – refletido pela elevação de vendas de veículos – com a maior ou menor utilização do transporte público".
Lentidão do trânsito aumenta 12% na manhã
A lentidão registrada em São Paulo durante o horário de pico da manhã piorou. No ano passado, houve em média 95 km de congestionamentos nos dias úteis, das 7 às 10 horas. Em 2013, o patamar era 12% menor, atingindo 83 km de filas.
Por sua vez, no horário de pico da tarde (que vai das 17 às 20 horas), o índice de engarrafamentos se manteve estável em 140km entre um ano e outro.
O engenheiro Horácio Augusto Figueira, mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), acredita que o acréscimo de carros contribuiu para a piora da fluidez nas ruas. "E a lentidão vai se estendendo para fora dos horários de pico, com congestionamentos cada vez mais frequentes ao longo do dia."
Ele diz que investir em obras viárias é um erro das administrações públicas. "Dessa forma, estão tentando apagar o incêndio com gasolina, porque mais pessoas serão incentivadas a usar veículos individuais."
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