1/4 dos cadastrados não usa bilhete único mensal

21/11/2014 - O Estado de SP

O Bilhete Único Mensal completa um ano com 914.086 pessoas cadastradas, mas 226.506 bilhetes permanecem inativos - 24,7% do total. A meta inicial de passageiros prevista pela Prefeitura de São Paulo e pelo governo do Estado, que era de 861,7 mil (6% menor) foi superada, conforme dados da São Paulo Transporte (SPTrans).

Na média, segundo a SPTrans, cada passageiro que usa bilhete mensal faz 99 viagens por mês, mais do que um trabalhador comum, que faz cerca de 46. Até hoje, 26,1 milhões de viagens foram pagas com bilhetes únicos mensais.


Lançado em 30 de novembro de 2013, o serviço mensal agradou sobretudo aos estudantes (63% dos usuários de cartões temporais). Entretanto, a necessidade do pagamento antecipado, entre R$ 140 e R$ 230, pode ainda afastar alguns interessados, na avaliação do superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Luiz Carlos Mantovani Néspoli. "Para quem ganha o salário médio de São Paulo, em torno de 2 salários mínimos, corresponde a uma antecipação de 10% a 15% da renda", analisa o especialista. "Significa que a pessoa está congelando parte considerável da renda, na expectativa de que vai de fato usar o cartão em outros horários, como fins de semana e à noite. Mas essa expectativa pode não ser muito confiável."

A impossibilidade de usar o saldo do cartão, como ocorre com um bilhete único comum, também afastaria interessados em potencial. Eles estariam, segundo o especialista, representados no montante de mais de 200 mil cadastrados na modalidade temporal que ainda não começaram a usar os cartões.

"No comum, não existe prazo, então, o dinheiro que você creditou pode ser usado a qualquer tempo. No temporal, você tem de usar no prazo contratado. Então, imagine que você faça 22 viagens no mês ou uma pessoa que vai e volta do trabalho, apenas. Você gastaria R$ 132 e sobraria um pouco. Se usar menos ainda, também perde", afirma Néspoli.

No entanto, ele vê uma grande utilidade social no cartão temporal, que existe há anos em várias grandes metrópoles do mundo. "Aumenta a ideia de mobilidade. Quem quer fazer mais alguma coisa, além de trabalhar ou estudar, como sair aos sábados, ir visitar amigos, ir ao cinema, fica menos dependente da cota fixa."

Justamente por isso, quando o Bilhete Único Mensal foi lançado, os governos municipal e estadual apelaram para que empresas passassem a utilizá-lo em vez do Vale-transporte (VT) - o que não vem acontecendo, segundo a SPTrans. A empresa onde trabalha o designer Richard Batista, de 29 anos, por exemplo, não adotou a sugestão. "Pego metrô e ônibus, mas continuo com VT. Gasto menos de R$ 230 por mês, só que não tenho margem para sair nos fins de semana ou à noite."

Futuro. Em nota, a SPTrans informou que "o ritmo de adesão (aos cartões temporais) depende da avaliação de cada passageiro" e "a expectativa é que o usuário compre produtos tradicionais em um momento e em outro opte pelo bilhete mensal, semanal, ou 24 horas, de acordo com a ocasião".

63% dos usuários do Bilhete Único são estudantes

Alunos matriculados em escolas ou universidades ganham descontos em todas as tarifas

As estatísticas da SPTrans revelam que a maioria dos usuários dos cartões temporais do Bilhete Único é de estudantes. São 578.406 pessoas, ou 63,2% do total. Os alunos matriculados em escolas ou universidades ganham descontos em todas as tarifas. Quando não há integração entre os sistemas de ônibus e metrô e trem, a tarifa sai por metade do preço integral. Nas outras situações, sai por cerca de 60% do valor original.

O universitário Bruno Cândido Ribeiro, de 18 anos, mora e estuda em Itaquera, na zona leste, e tem estágio na zona norte. Faz entre cinco e seis viagens de ônibus por dia, todas pagas com o bilhete único mensal. "O preço está bem justo, porque se você vai a cidades do interior paga por viagem R$ 2,90 e sem possibilidade de integração."

Ele pede, no entanto, mais conforto nos transportes de São Paulo. "Cortaram muitas linhas aqui do bairro até o centro no ano passado. Antes tínhamos três e agora só uma linha, que sai lotada." Para Ribeiro, as maiores beneficiadas pelo serviço são as empresas de ônibus, que precisam operar menos linhas, mas com o mesmo número de passageiros.