Ônibus pede passagem

17/09/2013 - Folha de SP

EDITORIAL

Conta com amplo respaldo dos paulistanos a medida oferecida pelo prefeito Fernando Haddad (PT) como resposta imediata à demanda, amplamente vocalizada nas manifestações de junho, por melhorias no transporte público.

Segundo pesquisa Datafolha, nada menos que 88% dos entrevistados aprovam a criação de faixas exclusivas de ônibus na cidade. Mesmo entre aqueles que se deslocam de carro é alto o índice de apoio à medida: 77% (mas apenas um terço deles passa por locais onde foram instaladas faixas).

Houve também percepção de melhoria nas condições do trânsito: 55% dos entrevistados consideram que a iniciativa ajudou o tráfego paulistano; para 27%, tudo permanece igual, enquanto 14% acreditam que a situação piorou.

Fica no plano subjetivo, contudo, o sucesso das faixas. Verdade que os benefícios, de certa forma, parecem intuitivos. Ainda assim, é lamentável que a prefeitura não tenha divulgado dados que permitam comparação entre cenários antes e depois da adoção da medida.

Não há dúvidas de que Fernando Haddad se viu pressionado pelos protestos de junho. Desde então, foram implementadas 124,6 km de faixas exclusivas --o que corresponde a 73% do total de 169,8 km concluídos na atual administração.

A fácil execução da medida --basta repintar as faixas já existentes à direita das vias e impedir seu uso pelos carros-- decerto pesou para que a prefeitura tomasse decisão raramente vista no cenário político: ampliar a promessa e diminuir o prazo de entrega. Se, no início do mandato, Haddad se comprometera com 150 km de faixas exclusivas até 2016, agora promete 220 km até o fim deste ano.

Que a satisfação com os números positivos da pesquisa, contudo, não faça a prefeitura olvidar dos males crônicos e dos desafios que persistem no trânsito de São Paulo --considerado ruim ou péssimo por 74% dos entrevistados.

Não será possível avançar sem reorganizar as linhas de ônibus de acordo com a demanda. Há regiões em que os coletivos têm frequência baixa e imprevisível, mesmo com as faixas à disposição.

É preciso também que Haddad avance no cumprimento de outra meta, hoje longe da realidade: a construção de 150 km de modernos corredores de ônibus, com espaços para ultrapassagem e cobrança das passagens antes do embarque --obras mais caras e demoradas, é verdade, porém mais eficientes.

Se o transporte público é a prioridade de Haddad, sua gestão precisa se dedicar a mais que apenas pintar faixas pelas ruas da cidade.