Protesto contra tarifa acaba em caos, fogo e depredação no centro

07/06/2013 - O Estado de SP

Leia: Quando a conta chega antes à mesa

Protestos contra reajuste de ônibus provocam tumulto em quatro capitais

Um protesto contra o aumento das passagens do transporte público levou caos ontem à região central de São Paulo em pleno horário de pico.Protegidos por barricadas de fogo, cones e lixo, manifestantes fecharam as Avenidas Paulista, 23 de Maio e 9 de Julho, depredaram as Estações Consolação, Trianon-Masp e Brigadeiro do Metrô, além de um acesso da Vergueiro, e destruíram lixeiras e novos pontos de ônibus que foram encontrando pelo caminho. Pelo menos 50 pessoas ficaram feridas, segundo organizadores, incluindo o fotógrafo do Estado Daniel Teixeira.

A Polícia Militar usou bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes, que responderam com pedras. Ao menos 15 haviam sido presos até 23h, entre eles o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino Prazeres.

Liderado por estudantes universitários e secundaristas do Movimento Passe Livre (MPL), o vandalismo começou às 18h30 na frente da Prefeitura, no Viaduto do Chá. Em menos de uma hora, o grupo que em cartazes prometia parar São Paulo já havia fechado as principais avenidas do entorno. Encapuzados colocavam sacos de lixo no meio das vias e ateavam fogo. Ônibus foram pichados e viaturas da São Paulo Transporte (SPTrans), destruídas, assim como um coletivo no Terminal Bandeira.

Com a chegada da polícia, por volta das 19h, começou o confronto no Vale do Anhangabaú, com pedras de um lado e gás lacrimogêneo e balas de borracha de outro. A Polícia Militar estimou em 2 mil o número de manifestantes e a Guarda Civil Metropolitana, em mil. Organizadores falaram em 5 mil.

Após o confronto no centro, o grupo se dividiu e parte dos manifestantes se deslocou para a Paulista. A via chegou a ser bloqueada totalmente nos dois sentidos às 20h. Viaturas e motos da PM acompanharam os manifestantes, que voltaram a atear fogo em objetos no meio da avenida. Alguns depredavam bares, arrancavam fios de energia e jogavam pedras na polícia.

Postes do canteiro central ficaram às escuras e guaritas da PM, nomeio da via. As Estações Brigadeiro e Trianon-Masp tiveram os vidros dos acessos quebrados e os muros pichados. Na Consolação, passageiros tentavam se proteger do gás das bombas da polícia que invadiram as plataformas de embarque. Na Vergueiro, um segurança ficou ferido. As portas foram fechadas preventivamente, para evitar riscos a usuários. Em nota, o Metrô disse que vai calcular os prejuízos causados pelos manifestantes e estudar formas de responsabilizá-los.

O protesto ainda causou um dos piores índices de congestionamento do ano. Às 19h, havia 160 km de lentidão – a média é de 138 km. As vias só foram totalmente liberadas pela Tropa de Choque por volta das 21 horas. Às 21h45, os manifestantes já haviam se dispersado.

Repercussão. O prefeito Fernando Haddad (PT) acompanhou a manifestação de seu gabinete. A assessoria informou que Haddad está aberto ao diálogo. Já o governo do Estado informou que não se manifestaria porque o ato se referia à "passagem de ônibus municipal”.

No centro, trabalhadores se dividiram em relação ao protesto. O porteiro Jorge Rossi de Oliveira, de 41 anos, que mora em São Miguel Paulista e pega dois ônibus por dia para chegar ao centro, aprovou. "Alguém tem de reclamar nessa vida. A gente aguenta todos os aumentos quietos, sem fazer nada. Tá certa a molecada.” Já o lojista Rodolfo Bodelacci, de 36, reclamou  da maneira como os protestos aconteceram. "Foi assustador. Ouvimos barulho de bombas e gritos. Preferi ficar esperando no trabalho em vez de voltar para casa nessa confusão”, afirmou. 

ENTREVISTA

Nina Cappello, militante do Movimento Passe Livre (MPL)

‘Transporte público não deve ter tarifa’

Uma das manifestantes que participaram das ações de ontem do Movimento Passe Livre (MPL), a estudante Nina Cappello defendeu a "tarifa zero” e afirmou que a polícia foi truculenta.

●Qual a principal reivindicação?

Somos contra qualquer aumento da tarifa de ônibus. Entendemos que o transporte, por ser um direito da população, tem de ser totalmente público e não ter tarifa. É o conceito de "tarifa zero”. Qualquer pessoa poderia pegar ônibus sem ter de pagar nada por isso.

●A Prefeitura então pagaria todo o valor da passagem?

Sim, da mesma maneira que paga tudo o que é gasto na saúde pública e na educação.

●Quem está participando da manifestação?

São estudantes, trabalhadores... O ato é organizado pelo Movimento Passe Livre e outras organizações. Há muita gente que ficou sabendo do protesto na hora, por causa dos panfletos que distribuímos, e resolveu aderir.

●O movimento tem alguma ligação com partidos?

Não é uma questão partidária. Somos um movimento social que luta por um transporte verdadeiramente público. Além da questão da tarifa zero, a população deve participar das definições das políticas de transporte, como, por exemplo, quais são as linhas que vão passar por determinado bairro ou se os ônibus vão funcionar 24h.

●Manifestantes incendiaram objetos e jogaram pedras?

A polícia reprimiu bastante o protesto, jogando bomba de gás e bala de borracha. Impediu que as pessoas ficassem em um viaduto público. Teve gente que apanhou com cassetete. As pedras foram uma maneira de as pessoas reagirem a essa violência.

Shopping Paulista fecha mais cedo após carro ser danificado

Por causa do vandalismo, o Shopping Pátio Paulista teve de fechar as portas ontem às 21h10 – 50 minutos mais cedo do que o normal. Segundo sua assessoria de imprensa, a orientação partiu da própria Polícia Militar, após manifestantes invadirem e causarem tumulto no centro de compras. O presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres, estava entre os militantes e, de acordo com informações iniciais da polícia, foi preso após danificar um carro que estava em exposição no shopping para divulgar a promoção do Dia dos Namorados. Ele negou e disse que foi detido após perguntar a um policial se as pessoas presas no shopping poderiam sair.

"Ele perguntou quem eu era e, ao saber, me deu voz de prisão”, contou ao Estado. Horas mais tarde, a polícia confirmou a versão do sindicalista e disse que ele havia sido preso por ter se apresentado como um dos articuladores do movimento.

Clientes foram orientados a sair do shopping pela porta dos fundos, na Rua Maestro Cardim.  Toda a equipe de segurança foi mobilizada para orientar o fluxo de saída. Mesmo assim, muitos frequentadores preferiram esperar o fim da confusão dentro do estabelecimento.

Pânico. Vários deles relataram a situação nas redes sociais. "Passei hoje momentos de pânico no Shopping Paulista, quando este foi invadido por manifestantes contra aumento de tarifas de ônibus”, escreveu Adriana Vasconcelos, em sua conta no Twitter. "Devia ter mais de 20 motos da policia aqui na frente do shopping. Sem contar umas cinco viaturas”, disse o usuário Wngbrch. "Minha mãe disse que ‘manifestantes’ invadiram o Shopping Pátio Paulista e quebraram várias coisas...”, relatou Lucas S. "Manifestantes destruíram um vaso e jogaram uma espécie de pedestal contra o para-brisa de um carro que estava exposto no Shopping Paulista”, postou Stephanie Marques.

PARA LEMBRAR

1º protesto foi em 2006

Não é a primeira vez que o Movimento Passe Livre entra em confronto com a Polícia Militar. No primeiro grande protesto do grupo em São Paulo, em 2006, os estudantes jogaram cavaletes na Tropa de Choque no Parque D. Pedro II. Formado na maioria por universitários, o grupo teve vários embates com o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Em 2010, quando quatro manifestantes foram detidos, cantavam o funk: "Dança Kassab, dança até o chão. Aqui é o povo unido contra o aumento do busão”. Em 2011, foram vários protestos do grupo contra o aumento de R$ 2,70 para R$ 3. Houve confronto e 26 foram detidos.

Grupo promete novo ato para hoje na Faria Lima

Comandante diz que Polícia Militar não preparou operação especial, mas vai monitorar movimentação pelas redes sociais

O Movimento Passe Livre marcou para hoje, às 17h, uma nova manifestação na Avenida Faria Lima, na zona oeste. A concentração será no Largo da Batata. A convocação para o evento, feita pelo Facebook,afirma que ontem "foram 5 mil nas ruas e amanhã (hoje) vai ser maior”.

Pelo menos 38 mil essoas foram convidadas ao evento pela rede social e, até 0h30 de hoje, 1,4 mil pessoas haviam confirmado presença. Mesmo assim, o coronel Reynaldo Simões Rossi, do Comando de Policiamento do Centro, responsável pela operação que tentou conter a manifestação realizada ontem em São Paulo, afirmou em entrevista coletiva que a polícia não preparou nenhum esquema especial para o novo protesto.

"Temos expertise para garantir o direito à manifestação. Se ela for pacífica e legítima, só vamos acompanhar. Mas, se houver violência, vamos intervir novamente”, declarou o comandante, que concedeu entrevista coletiva com farda manchada de sangue. Rossi contou ter levado uma pedrada de um manifestante durante o confronto.

Ele disse que a corporação estava monitorando pelas redes sociais o Movimento Passe Livre e só interveio ontem quando o grupo começou a depredar a cidade. "Eles não são manifestantes, são vândalos. Deixaram rastros por onde passaram”, disse o coronel. Segundo ele, 320 policiais participaram ontem da operação. Ele não falou em aumento do efetivo para hoje. O manifestante Caio Martins Ferreira, de 19, que se identificou como um dos articuladores do movimento, rebateu o comandante e disse que o grupo só agiu de forma violenta após a polícia lançar bombas de gás lacrimejante. "A construção de barreiras foi natural, pois a gente precisava se defender. Culpamos a polícia pela violência.”

Rio, Goiânia e Natal também tiveram conflito

Manifestantes também fecharam vias, colocaram fogo em barricadas e enfrentaram a polícia durante protestos em outras três capitais. No Rio, dois estudantes e dois ambulantes foram detidos, após confronto com a Tropa de Choque. O ato contra o aumento da passagem mobilizou cerca de 150 pessoas na cidade, segundo a PM. O grupo se reuniu às 17 horas na frente da Igreja da Candelária e seguiu caminhando pela Avenida Presidente Vargas até a Central do Brasil.

Manifestantes tentaram interditar a avenida, sentando sobre o asfalto, e 30 policiais da Tropa de Choque foram acionados para impedir. Houve confronto e a polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Pelo menos um homem foi atingido na perna por uma bala. Manifestantes reagiram com pedras. Os quatro detidos foram acusados de tentar ferir os PMs. Organizado pela internet, o ato foi contra o reajuste da passagem, que passou de R$ 2,75 para R$ 2,95.

Estrada fechada.Em Natal, um grupo que se intitula #Revolta do Busão, contrário ao aumento da passagem, que passou de R$ 2,20 para R$ 2,30, interditou o trânsito na principal via de saída da capital potiguar.

Na BR 101, próximo a um dos principais shoppings da cidade, os manifestantes atearam fogo em pneus. O clima foi tenso, mas não houve confronto direto com os policiais.

Em Goiânia, a PM precisou cercar alguns prédios públicos para evitar atos de vandalismo mais graves. Ainda assim, uma viatura da PM acabou com o para-brisa estilhaçado por um artefato lançado pelos manifestantes. A tarifa subiu de R$ 2,70 para R$ 3,00 no dia 22 de maio.

Protesto contra aumento de ônibus tem confronto e vandalismo em SP

Manifestação liderada por estudantes reuniu ao menos 2.000 pessoas e fechou a avenida Paulista

A PM utilizou balas de borracha e gás para tentar conter depredação; houve 15 detidos e 3 feridos

Em protesto contra a elevação da tarifa de ônibus, metrô e trens em São Paulo, manifestantes entraram em confronto com a Polícia Militar, interditaram vias e provocaram cenas de vandalismo ontem à noite na região central.

O ato levou à interdição de vias como 23 de Maio, Nove de Julho e Paulista na hora de pico. Estações de metrô foram depredadas e fecharam.

No centro e na Paulista, quebraram placas, picharam muros e ônibus, atearam fogo, provocaram danos a um shopping e ao Masp.

Os manifestantes são ligados ao Movimento Passe Livre, liderado por estudantes e alas radicais de partidos.

Eles marcaram novo protesto para hoje às 17h no largo da Batata, em Pinheiros.

O reajuste da tarifa de ônibus, metrô e trens, de R$ 3 para R$ 3,20, vale desde domingo e ficou bem abaixo da inflação. A alta dos ônibus foi de 6,7%, contra 15,5% do IPCA. O aumento foi decidido pelo prefeito Fernando Haddad (PT) e pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).

O ato, diz a PM, reuniu cerca de 2.000 pessoas --organizadores falavam em 6.000.

Eles saíram em passeata às 18h do centro até a Paulista.

Houve ao menos 15 detidos, incluindo Altino de Melo Prazeres, presidente do sindicato dos metroviários. Segundo a polícia, dois PMs e um manifestante se feriram.

A PM utilizou bombas de gás e balas de borracha.

O Metrô disse lamentar os "fatos violentos" e que estuda responsabilizar autores. A assessoria de Haddad afirmou que "a prefeitura entende a manifestação", mas que lamenta que ela "tenha tomado proporções violentas".

Organizadores argumentaram que não era possível controlar toda a multidão.

Grupo reúne ala radical de partidos e estudantes

O Movimento Passe Livre é formado por alas mais radicais do movimento estudantil e de partidos como PSOL e PSTU.

Eles defendem transporte público gratuito e nos últimos anos têm protestado sempre que a tarifa sobe.

Em 2011, quando a gestão Gilberto Kassab (PSD) elevou a passagem de R$ 2,70 para R$ 3, fizeram mais de uma dezena de atos, parando o trânsito e provocando confrontos. A bancada petista na Câmara apoiava o movimento.

Um dos protestos terminou com um boneco de Kassab queimado, em frente ao apartamento do ex-prefeito. Outro acabou com manifestantes, vereadores e policiais feridos em frente à prefeitura.

O ato de ontem foi convocado nas últimas semanas por cartazes com a frase "Se a tarifa aumentar, São Paulo vai parar" e panfletos entregues na cidade.

Um deles diz que "todo aumento é uma injustiça" e que se trata de "escolha política pela exclusão, que só beneficia os cofres dos empresários de ônibus".

Ato fecha até shopping e deixa estações depredadas

Comerciantes baixaram portas em meio a confronto entre PM e manifestantes

Protesto deixou rastro de destruição na av. Paulista; nuvem de gás se espalhou, atingindo clientes em bares

Em pânico, clientes e funcionários ficaram presos no shopping Paulista e em lojas e lanchonetes quando o Batalhão de Choque começou a disparar bombas de gás lacrimogêneo na av. Paulista.

Enquanto isso, manifestantes arrancavam lixeiras de concreto e as colocavam, incendiadas, na pista. Ficaram ali bloqueando a via até que um caminhão da PM as arrastou.

Nas ruas transversais, clientes de bares tinham os olhos irritados, em lágrimas, por causa da fumaça espessa.

Vidraças das estações Brigadeiro e Trianon-Masp do metrô foram pichadas e depredadas.

Era esse o cenário na mais famosa avenida da cidade às 21h de ontem. Pouco antes, os manifestantes haviam passado pela av. Brigadeiro Luis Antônio aos gritos de "SP vai parar se a tarifa não baixar".

Assustados, comerciantes baixavam as portas. "Aqui não vai entrar", disse o funcionário de um bar, com uma barra de ferro na mão.

Dentro de ônibus parados nas vias, passageiros também hostilizavam os manifestantes.

Na praça Oswaldo Cruz, em frente ao shopping, policiais descarregaram balas de borracha sobre um grupo. Os manifestantes correram para dentro do shopping. Um carro em exposição foi depredado.

Os seguranças fecharam as portas, impedindo entrada ou saída. Um idoso que precisava pegar suas duas netas na praça de alimentação teve que implorar para entrar.

DANOS PATRIMONIAIS

O Metrô informou que as estações foram fechadas para evitar risco aos usuários, mas o sistema não parou.

"A companhia vai estudar formas de responsabilizar os autores desses atos que causaram danos patrimoniais e colocaram em risco os usuários", disse, em nota.

"Essas pessoas não estão a fim de se manifestar, mas sim de fazer baderna", afirmou o coronel Reynaldo Simões, comandante da operação da Polícia Militar.