Artigo: O trajeto dos ônibus em SP

13/09/2012 - Folha de S.Paulo

*José Luiz Portella Pereira

Quando se fala do tempo gasto pelas pessoas para chegarem ao trabalho, a ideia é apontar o trânsito como o grande culpado. Ele tem grande influência, mas não é o único responsável.

O trajeto dos ônibus em São Paulo é quase sempre irracional. Feito para demorar mais do que seria necessário. São longos e tortuosos percursos, passando muitas vezes por ruas estreitas, aumentando o tempo da viagem. Pior ainda é que não se ligam a trem e metrô, de modo a otimizarem o deslocamento.

O foco não está no deslocamento das pessoas, mas no melhor percurso para o ônibus.

Ninguém sai de casa para andar de metrô, de trem, de ônibus. O grande objetivo é chegar ao destino no menor tempo possível. Logo, o sistema de transporte deve ser pensado como um todo que se articule da melhor forma para realizar as viagens demandadas.

De onde partem as pessoas e para onde elas querem ir é o que importa. O sistema deve atender diretamente esses desejos. Deve adaptar-se a isso e não o contrário.

Linhas de ônibus que estão próximas de linhas de metrô ou de trem fazem voltas e voltas, percorrem um trajeto maior e acabam deixando as pessoas em estações mais sobrecarregadas do sistema sobre trilhos, como a estação Itaquera, do metrô, onde já existe um terminal bastante carregado.

Além do desconforto, o tempo de viagem aumenta, pois a concentração em determinadas estações aumenta o tempo de embarque. Quer dizer, além do trânsito em si, bastante carregado, acrescenta-se um trajeto mais longo.

A linha 213C (Itaim Paulista - Jd. Califórnia) é um exemplo.

Tratar cada modo de transporte separadamente é a origem dessas incoerências. Metrô, ônibus, carro, táxi, bicicleta fazem parte de um sistema só. Que, por isso, deve ser operado por um gestor apenas: a chamada Autoridade Metropolitana de Transporte.

Uma mudança nos trajetos dos ônibus diminuiria imediatamente o tempo gasto nas viagens. Acrescida de uma nova ligação planejada com o transporte sobre trilhos em estações sem concentração indevida, teria sucesso ainda maior.

O trânsito não irá mudar da noite para o dia. Tampouco os congestionamentos desaparecerão. Só um conjunto ousado de medidas diminuirá o comprimento das filas. Que em São Paulo podem ser reduzidas em 30%, em cerca de três anos.

Mas esse conjunto não necessita ser implantado simultaneamente. A mudança de trajeto dos ônibus pode ser implantada logo. Teria efeito benéfico imediato que quase todos iriam perceber rapidamente.

Algumas soluções estão mais próximas do que se pensa. Aplicá-las, além de melhorar a vida das pessoas, serviria de estímulo para acreditarmos que a cidade tem jeito.

*José Luiz Portella Pereira, 58, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária.

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