31/05/2011 - O Estado de S.Paulo, Cristiane Bomfim
Profissionais receberão outras funções e motorista terá adicional de R$ 250
JORNAL DA TARDE
JB Neto/AE
No cartão. Segundo os sindicatos dos trabalhadores e das empresas, apenas 8% dos passageiros pagam viagem com dinheiro
Com o argumento de que hoje só 8% dos usuários de ônibus de São Paulo pagam as passagens com dinheiro, o Sindicato de Motoristas e Cobradores (Sidmotoristas) fechou acordo com as viações para acabar com a função de cobrador. Pela proposta, sem data para começar, o motorista terá a incumbência de eventualmente cobrar a passagem. A Secretaria de Transportes informou que não tem nenhum estudo sobre o assunto.
Por dia, a frota de 8,3 mil ônibus - que não inclui vans e micro-ônibus - transporta 5,5 milhões de pessoas. São 15 mil motoristas e 15 mil cobradores. A proposta, que prevê a readequação dos cobradores em outras funções, foi apresentada pelo Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss) e aprovada pelos trabalhadores em assembleia no dia 18. "Essa é uma discussão que se arrasta desde a gestão do ex-prefeito Celso Pitta (1996-2000), mas na época não tínhamos nenhuma garantia de que os cobradores não seriam demitidos", afirma o diretor de comunicação do Sindmotoristas, Nailton Francisco.
Uma das promessas do sindicato que representa as 32 empresas que operam o serviço na capital é de que não haverá demissões. Os cobradores serão realocados em outras funções, como mecânicos, fiscais, manobristas em pátios e até motoristas. Além disso, segundo o acordo, todo motorista que for trabalhar sem o cobrador receberá adicional de R$ 250 no salário.
Mas para passageiros, cobradores e motoristas a mudança não é bem-vinda. "E quem não está acostumado a andar de ônibus e embarca com dinheiro? Não embarca?", pergunta a ajudante de cozinha Maria Solange de Fátima, de 40 anos. Outras preocupações dos usuários são a fila para entrar no coletivo e a segurança. "O motorista terá de fazer a cobrança da passagem de quem embarca com dinheiro. Ou ele dirige, ou dá o troco. É um perigo, porque o motorista não vai prestar atenção nas duas coisas", afirma o encarregado de almoxarifado Mauro Henrique Alves de Oliveira, de 35 anos.
Entre os cobradores, a preocupação é o desemprego. "Não dá para confiar em propostas como essa. Não vai ter como recolocar todos os cobradores em outras funções", diz Anderson Medeiros da Rocha, de 30.
Motorista há 16 anos, Clodoaldo Alves da Silva, de 37, diz que seu trabalho ficará mais difícil sem o cobrador. "Ele ajuda idosos e deficientes a embarcar, orienta em uma manobra mais complicada, não deixa passageiros entrarem pela porta de trás. Sozinho não tenho como fazer isso", diz.
Lei. Segundo a lei municipal 13.207 de 2001, é obrigatório que todos os coletivos tenham um funcionário além do motorista para orientar e auxiliar os usuários, ajudar o motorista nas atividades, evitar o não pagamento das passagens e fazer a cobrança quando necessário. A assessoria de imprensa da Câmara Municipal informa que não há nenhum projeto de lei que altere a legislação em vigor.
Questionada sobre o possível não cumprimento da legislação, a SPUrbanuss diz que a mudança não vai ferir a lei. "Não existe exigência de que o ônibus tenha um motorista e um cobrador, e sim um segundo tripulante", afirma, em nota. O sindicato patronal diz ainda o que "existe é um movimento que prevê o esvaziamento da função relativa à cobrança embarcada". "As etapas, bem como as iniciativas para que isso aconteça, serão avaliadas com o tempo."
REAÇÕES
Luis Cláudio Mariolino
Cobrador
"Uma decisão como essa dá medo de demissão. Ainda mais quando dizem que a gente só vale R$250"
Maria Lúcia da Silva
Dona de casa
"Acho que vai ficar ruim até para quem anda com bilhete único"
Anderson da Rocha
Cobrador
"A população não está preparada para a mudança"
Gregório Poço
Ex-presidente do Sindmotoristas
"Paulatinamente os cobradores vão deixar de existir. Mas a necessidade de um segundo homem vai se manter"
LÁ TEM...
Londres
Passageiros têm um cartão como o bilhete único, recarregável, e validam na catraca do ônibus, que desconta a tarifa.
Buenos Aires
O passageiro diz seu destino e o motorista digita a informação em uma espécie de computador. Depois, o passageiro faz o pagamento em uma máquina.
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