Viaje no ônibus elétrico do corredor Diadema-Morumbi


sex, 20/08/10 por milton.jung | categoria Ambiente Urbano, Ponto de ônibus, por Adamo Bazani | tags , , ,

Os dois modelos híbridos, com baixa emissão de poluentes, são movidos a eletricidade e energia gerada a partir de um motor diesel. Nos vídeos você vai ver como estes ônibus são operados.

Por Adamo Bazani

Motoristas de carros de passeio e passageiros da região atendida pelos 12 km do corredor Diadema-Morumbi ainda se adaptam aos serviços que tiveram início em 31 de julho. As invasões de carros e, principalmente, de motos seguem ocorrendo, porém, a frequência das infrações tem diminuído. Desde segunda-feira, 16 de agosto, a CET – Companhia de Engenharia de Tráfego – tem multado os motoristas de carros e motociclistas. A infração é considerada grave e resulta em multa de R$ 127,69 e cinco pontos na carteira nacional de habilitação.
Se a situação ainda não é a ideal, pelo menos em relação ao meio ambiente, para os usuários do corredor e moradores das proximidades, há boas notícias. A empresa operadora dos serviços intermunicipais do corredor, a Metra, apresentou ao nosso espaço o ônibus elétrico híbrido que já está prestando serviços no trecho.
Por enquanto, são duas unidades: dois Caio Millennium II, Eletra/Híbrido, ano 2005, que vieram da Auto Viação ABC, empresa pertencente ao mesmo grupo controlador da Metra, que opera serviços intermunicipais entre Santo André e São Bernardo do Campo.
O veículo número 6100, placas DPB 6952, era o prefixo 211 da Auto Viação ABC, e o 6101, placas DPB 7833, era o carro 213 da ABC.
Os dois ônibus foram adaptados para o atendimento do padrão de serviços do trecho entre Diadema e Brooklin. Além de reformulação no interior, renovando o veículo e já atendendo as novas especificações de conforto e segurança, o ônibus Mercedes Benz recebeu duas portas do lado esquerdo por onde são realizados embarques e desembarques na maior parte da ligação.
São os primeiros veículos ecologicamente corretos a percorrerem o novo corredor que era esperado há quase 25 anos pela população do ABC Paulista e de parte de zona Sul de São Paulo.
De acordo com o INEE – Instituto Nacional de Energia Elétrica, dependendo do tipo de poluente, o ônibus elétrico híbrido pode eliminar quase completamente o elemento poluidor. Estimativas do órgão demonstram que a utilização de modelos como este da Metra pode gerar reduções de 75% de óxidos de nitrogênio (NOx); de 50% de material particulado (fumaça negra); de 40% a 50% de dióxido de carbono (CO2), além de praticamente zerar a emissão de monóxido de carbono.


A importância desta ação pode ser medida a partir de estudo realizado por Paulo Saldiva, professor de medicina da USP que chefiou o Laboratório de Análise Sobre os Impactos da Poluição, pertencente à Universidade.
O número de mortes causadas por doenças agravadas pela poluição é de nove pessoas por dia. Isso representa até 10 % dos óbitos registrados diariamente na cidade de São Paulo, por diversas causas. A Organização Mundial de Saúde estipula como limite para a qualidade do ar 20 microgramas por m3 de material inalável particulado, sendo que São Paulo apresenta o dobro – 40 microgramas por m3.
80% do ozônio e 40% do material particulado emitido no ar na cidade de São Paulo vêm da frota de veículos a diesel: caminhões, ônibus, picapes e outros automóveis.
Mesmo assim, de acordo os estudos, mesmo usando ônibus a diesel, o meio ambiente já seria beneficiado, já que um ônibus convencional que transporta 70 pessoas pode tirar 35 carros de passeio das ruas, que em média levam duas pessoas. O dr. Saldiva se mostra completamente favorável ao uso e incentivo para a produção de ônibus híbridos.
E o melhor: não só o Brasil tem condições de fabricar veículos modernos com essa tração, como em 1999 foi o primeiro País do mundo a operar comercialmente um ônibus híbrido. No entanto, por falta de inventivos governamentais, políticas públicas que contemplem transportes e meio ambiente como um único assunto, e a posição de alguns empresários, que ainda preferem comprar veículos mais baratos, em concessões de curto prazo ou vias sem condições de receber um híbrido, os ônibus deste tipo ainda são bem raros no Brasil.
O sistema de tração é fabricado pela empresa Eletra, que produz veículos de tecnologia limpa 100% nacional e também pertence ao grupo da Metra, SBCTRans e Auto Viação ABC, da família Setti Braga, que atua nos transportes da região do ABC desde os anos de 1920.
O sistema funciona da seguinte maneira: um motor automotivo, mas que opera de forma estacionária, movido a diesel, é responsável pela partida do ônibus e geração de energia elétrica. Quando ele atinge 1800 rpm já há energia para o ônibus se movimentar com o funcionamento do motor elétrico, que opera como motor de tração. O Diesel continua funcionando na mesma rotação, gerando energia. Nas situações em que o ônibus não usa tanta força, como na frenagem, chamada de frenagem regenerativa, essa “energia extra” é armazenada em bateria. Tal energia é usada em momentos de maior exigência do sistema e permite autonomia do carro, que não precisa de abastecimento elétrico exterior.
Nossa reportagem teve oportunidade de andar no ônibus híbrido do Corredor Diadema – Brooklin dentro da garagem da empresa Metra, em São Bernardo do Campo. Apesar do ônibus ser ano 2005, a impressão, pela reforma e modernização, é de que o ônibus era zero quilômetro.
Quem esteve à frente do volante foi a motorista Andréa Fazolin. Ela se mostrou entusiasmada com o ônibus.
“Este veículo é muito bom. É como se fosse um trólebus. Não é poluente, é mais macio que os outros ônibus” – ressaltou Andréa ao relatar os benefícios deste tipo de ônibus tanto para quem utiliza quanto para quem trabalha nele.
Pudemos verificar também que o nível de ruído do ônibus é baixo, o que aumenta a sensação de conforto.
A estimativa é que mais veículos, inclusive trólebus, possam prestar serviços no atual corredor Diadema –Brooklim – Morumbi até 2011. No entanto, ainda não há sinais de obras de eletrificação deste trecho.

Mudanças buscam acabar com confusão

Menos de 15 dias depois da inauguração do corredor, a EMTU – empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, teve de efetuar reformas para aumentar a segurança e diminuir a confusão. As telas de proteção estão sendo substituídas por grades de ferro mais fortes nos canteiros centrais.
No corredor operam também ônibus municipais, gerenciados pela SPTrans da Capital Paulista. A entrada e saída constante destes ônibus do corredor foram alvos de reclamações de usuários e motoristas de carro. Os veículos, muitas vezes saem do lado esquerdo, onde fica o corredor e vão para paradas municipais à direta. Nem todos os ônibus têm as portas do lado esquerdo.
A SPTrans informou que algumas linhas têm de sair do corredor para fazer correções e prometeu fiscalizar e orientar os motoristas de ônibus.
Quanto aos ônibus híbridos da Metra, apresentados a reportagem, a estimativa é que venham mais veículos com emissão baixa de poluentes.
Adamo Bazani, repórter da Rádio CBN e busólogo. Escreve no Blog do Mílton Jung.

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